O Universo é uma Harmonia de Contrastes

O Universo é uma Harmonia de Contrastes
O Universo é uma Harmonia de Contrastes
O Largo dos Lóios, no Porto, é um dia de sol mesmo quando há chuva. Ali tudo é Porto, com o que de mais genuíno o Porto tem, e é. Entre a agitação da Praça da Liberdade e a Rua das Flores, passeia-se por uma harmonia de contrastes entre o tradicional e o moderno que só o Porto sabe, com a mestria do Norte, oferecer. 

O tempo foi encaixando os passeios, as pedras da calçada, os bancos de jardim, as árvores e os espaços ajardinados por entre as ruas apertadas que se avizinham e os prédios antigos, altos e estreitos, harmoniosamente entalados entre si. As varandinhas de ferro rendilhado e as sacadas desenhadas convidam os pombos ao descanso e a trazer vida e movimento aos azulejos e às pedras que glorificam as fachadas. 

A dedilhar os azulejos da frontaria principal, o frio da cerâmica que os dias de inverno intensificam, contrasta com as muitas histórias ardentes que imaginamos terem acontecido ali, perante a impavidez dos edifícios, nos anos que foram passando. O casaco de penas quentinho aconchega o corpo, rematado por um cachecol que mais do que proteger do frio que ainda teima em entrar, aconchega a vista em passadas lentas, num cenário romantizado pela chuva que vai caindo e que nos Lóios, sem que possamos explicar porquê e ao contrário de todos os outros lugares, não incomoda.

As teclas de um secular órgão de tubos tocadas no Cais de Gaia, na outra margem do Douro, num antigo armazém de vinho do Porto e onde agora se saboreia um delicioso pastel de bacalhau com queijo da Serra, tocadas devagar, podiam bem musicar aquilo que os olhos contemplam sem pressa e votados ao silêncio, deste lado do rio.

Nos Lóios, todos os sentidos são ativados em simultâneo. Este é um lugar onde apetece estar e onde o contraste possui uma encantadora ordem, à qual as luzes do fim da tarde conferem uma magia especial. O cair da noite atrai o olhar para o efeito de luz que se sobrepõe, e dois marcos destacam-se nesta tela: ao cimo da rua, a torre dos Clérigos, uma obra de arte imponente da arquitetura barroca do século XVIII, impõe-se nos seus 75 metros de altura a oferecer uma extraordinária vista 360º sobre a cidade do Porto. E no número 1 do Largo dos Lóios, a número 1 dos oceanos: a sardinha portuguesa, no seu mundo fantástico de luz e cor. Entrar é uma tentação inevitável que nos remete para o imaginário circense na primeira passada, atraídos por um jingle de sininhos e vozes infantis, a evocar a sardinha. E ali descobrimos mais um contraste: a rainha de todos os peixes – a sardinha Portuguesa – é um peixe simultaneamente nobre e popular, a provar que a soberania se faz com humildade e autenticidade.

Quando Pitágoras convencionou que o universo é uma harmonia de contrastes, não estaria a antecipar aquilo que viria a ser a singularidade atual do Largo dos Lóios, mas o tempo – sempre o tempo! - veio dar-lhe razão.
Mar 2020 | Portugal 2020
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