Manifesto das artes: Sintra

Manifesto das artes: Sintra
Sintra é uma melodia harmoniosa. É a voz principal num embalo de sons e silêncios. Sintra é um adágio, mas também um allegretto e um vivacissimo, numa desafiante e original combinação de ritmos, teclas, sopro, cordas e percussão. É a partitura, a batuta, a sinfonia, a orquestra inteira!

Sintra é uma arte cénica de movimento. Um mágico Quebra-Nozes e simultaneamente um dramático Lago dos Cisnes. Mas também o calor da Salsa, o atrevimento do Tango, a audácia do Flamenco, o molejo do Samba e a sedução da Dança do Ventre. É a leveza do Hip-hop e a alegria do Funk. É o rodopiar das Danças de Salão, o ritmo cubano do Bolero e a expressão das raízes africanas do jazz. É a vibração do sapateado e a consciência corporal da dança contemporânea.

Sintra é um jogo de pigmentos que se manifestam numa tela natural. É um traço puramente abstrato e ao mesmo tempo uma representação gráfica em pinceladas impressionistas. Sintra é uma arte visual plena de cor e expressionismo em cujas sombras e profundidade se revelam emoções. É em si mesma um autorretrato, um desenho a carvão, uma aguarela esbatida e uma intensa pintura a óleo. Sintra é uma galeria completa de renascentistas, o auge do realismo, a tridimensionalidade do Cubismo.

Sintra é, em cada recanto, uma textura esculpida em jogos de volumetria. Sintra transforma blocos em bustos de heróis bíblicos e em estátuas plenas de simbolismo. É o Renascimento em mármore e o Neoclassicismo em bronze, o Gótico monumental da pedra, o Barroco exacerbado do ébano, as formas geométricas do Cubismo, as linhas do Futurismo, a redução do Minimalismo, a contemporaneidade das Instalações e a irreverência da Pop Art.

Sintra é uma edificação, um templo que a natureza arquitetou e que o Homem modelou a régua e esquadro. É o adorno da criação divina e o efeito sensorial que resulta da arte espacial.

Sintra é um livro de poemas, uma narrativa épica, um conto de fadas, um álbum ilustrado, um guia de viagens, um livro de memórias, um ensaio literário… e será sempre o eterno romance trágico de Afonso da Maia. Sintra é, em si mesma, uma enciclopédia onde cabem todos os géneros literários, mesmo os que ainda não foram inventados. 

Sintra é também a revelação da sétima arte e o cenário perfeito que dispensa efeitos. Sintra é o melhor realizador, a melhor direção artística, o melhor guião, a melhor banda sonora, a melhor fotografia, o melhor ator e atriz. Sintra é o melhor filme.

Mas Sintra tem outras artes. Num lugar pleno de revivalismo e charme que os palácios, palacetes, parques e jardins nos fazem querer descobrir, abrem-se as portas da Comur na Praça da República, numa loja plena de detalhes e onde as conservas são a arte do sabor, do trabalho manual, da história e da singularidade do mar Português.  

Sintra é uma obra de arte, uma contemplação tardia, uma manifestação artística, um rasgo da natureza e um crescendo de inspiração. Sintra presta-se a uma degustação demorada das melhores conservas, lacradas com alma em cada lata que sai da Comur. 

Mesmo quando o vento revolve as nuvens e o sol se despede no horizonte, Sintra mantém sempre um encanto especial, até ao último raio de luz. Porque Sintra é arte.
Mar 2020 | Portugal 2020
O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa ©2023 all rights reserved

made by Anahory&Monteiro